Existem muitas tentativas de definir o termo “transformação digital”. Por exemplo, Westerman[i] declarou que é “o uso da tecnologia para melhorar radicalmente o desempenho ou o alcance das empresas”. Também é conceituada como o “uso de novas tecnologias digitais, como mídias sociais, dispositivos móveis, a fim de possibilitar grandes melhorias nos negócios, como como melhorar a experiência do cliente, simplificar operações ou criar novos modelos de negócios”[ii]. A expressão também é conhecida por “processo que visa melhorar uma entidade desencadeando mudanças significativas em suas propriedades por meio de combinações de tecnologias de informação, computação, comunicação e conectividade”[iii].
No entanto, todas as definições compartilham um ponto comum: uso de tecnologias digitais para melhorar a prestação de serviços, mudar os processos e a cultura organizacional e impactar a criação de valor.
A transformação digital é uma estratégia crítica para empresas que querem se manter competitivas na chamada era digital e é consenso que se trata de um caminho sem volta. O mundo já está com a próxima grande revolução tecnológica sobre si. Há previsões de que nas próximas décadas teremos conexões digitais mais rápidas, alimentadas por 5G e IoT, biorevolução, inteligência artificial aplicada, softwares 2.0, automações e virtualizações de processos, “wearables” (dispositivos vestíveis)[iv] e humanos aumentados[v], entre outras (além das que ainda nem foram imaginadas)!
Diante das pautas de ESG – Environmental, Social and Governance – as empresas necessitarão conciliar seus processos de transformação digital com a sustentabilidade. A sustentabilidade e a transformação digital estão necessariamente interligadas.
A sustentabilidade busca preservar recursos naturais e promover um desenvolvimento econômico equilibrado. A transformação digital, por sua vez, é uma tendência que está mudando a forma como se vive, trabalha e consome. Juntas, elas podem criar soluções inovadoras para os desafios ambientais e sociais que a humanidade enfrenta hoje no mundo.
É certo que a transformação digital oferece uma grande oportunidade para a promoção da sustentabilidade. A digitalização, por exemplo, ajuda a reduzir o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa, além de aumentar a eficiência no uso de recursos. A tecnologia digital também pode ser usada para monitorar e controlar a utilização de recursos, tornando possível identificar e corrigir práticas insustentáveis. Outra forma através da qual a transformação digital contribui para a sustentabilidade é através da possível criação de soluções inovadoras para problemas ambientais. Tecnologias como inteligência artificial e Internet das coisas podem ser usadas para monitorar e prever desastres naturais, ajudando a proteger a população e preservando o meio ambiente. Além disso, através da transformação digital podem ser desenvolvidas novas fontes de energia limpa e renovável, que vêm sendo ativamente estudadas.
Em um viés negativo, a transformação digital impacta a sustentabilidade com o aumento da produção de lixo eletrônico, o consumo de energia por centros de dados, mineração e extração de recursos naturais necessários para produtos de hardware (que são os principais contribuintes para o esgotamento de recursos e aquecimento global) entre outros.
Muitas organizações aceleraram suas iniciativas de transformação digital em 2020, por imposição da pandemia. Mas fica a pergunta: quantas empresas conseguiram avançar sendo sustentáveis?
A pandemia mundial do coronavírus, além de todas as outras consequências que acarretou, acabou abrindo a cortina de vulnerabilidades a uma miríade de riscos globais. O Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico de 2021[vi] constatou que depois das doenças infecciosas, o fracasso da ação climática está entre um subconjunto de riscos ambientais que representam a segunda ameaça mais iminente à humanidade.
Para se ter uma ideia da importância de direcionamento ESG pelas organizações, o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça (de 2022) divulgou relatório afirmando que o futuro é digital e sustentável. Ou seja as empresas que não considerarem a sustentabilidade em seus processos de transformação digital, certamente perderão mercado em um futuro breve.
Parece dramático, mas não é exagero. Reputação ligada à práticas ESG já determina até 40% do valor de mercado de uma empresa. As práticas ESG são preditores de desempenho não financeiros que incluem: motivação de funcionários, satisfação de clientes, melhor uso de recursos, eficiência de gestão (governança).
Além disso, empresas que apresentam bom desempenho nos critérios ESG tendem a estarem mais sintonizadas com as condições gerais do mercado. Tudo isso agrega valor à empresa, à marca, indicando também que a empresa faz uma boa gestão de riscos e tem maior resiliência, o que agrada investidores.
É difícil pensar que uma empresa sem diretrizes de ESG ocupe o espaço de um importante player de mercado ou qualquer posição relevante em seu ramo de atuação nos próximos anos.
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[i] G. Westerman, C. Calméjane, D. Bonnet, P. Ferraris e A. McAfee, “Transformação Digital: um roteiro para organizações de bilhões de dólares”, MIT Cent. Dígito Ônibus. Consultoria Capgemini. , vol. 1, pp. 1–68, 2011. | G. Westerman, D. Bonnet e A. McAfee, “Os nove elementos da transformação digital”, MIT Sloan Management Review , vol. 55, não. 3, pp. 1–6, 2014. Veja em: Google Acadêmico
[ii] M. Fitzgerald, N. Kruschwitz, D. Bonnet e M. Welch, “Adotando a tecnologia digital: um novo imperativo estratégico”, MIT Sloan Management Review , vol. 55, não. 2, pág. 1, 2014. Veja em: Google Acadêmico
[iii] G. Vial, “Entendendo a transformação digital: uma revisão e uma agenda de pesquisa”, The Journal of Strategic Information Systems , vol. 28, não. 2, pp. 118–144, 2019. Veja em: Site do Editor | Google Scholar
[iv] Dispositivos vestíveis são tecnologias que se apresentam na forma de dispositivos iguais ou similares a peças de roupa ou equipamentos vestíveis, tais como relógios, pulseiras ou até mesmo óculos de realidade virtual.
[v] Exemplo de dispositivos que permitem pessoas com paralisia recuperarem capacidade da fala
[vi] https://www.weforum.org/reports/the-global-risks-report-2021/conhecida